Estudo inédito, promovido pelo Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), aponta que comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas elevam o risco de mortalidade de crianças e adolescentes hospitalizados por Covid-19 no Brasil.
Publicado como pré-print e aguardando revisão para publicação em periódico científico internacional, o artigo realizou uma análise estatística de dados do Ministério da Saúde sobre 5.857 pacientes menores de 20 anos hospitalizados por Covid-19.
Em comparação com pacientes previamente saudáveis, o estudo demonstrou que existe maior mortalidade por Covid-19 em crianças com doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Especialmente, quando associadas aos pacientes com mais de uma doença crônica, o risco de mortalidade apresentado era quase dez vezes maior.
Além disso, o estudo mostrou maior mortalidade entre crianças das etnias parda, indígena e amarela, quando comparadas com crianças brancas. Residentes das regiões Norte e Nordeste ou de cidades com menor desenvolvimento socioeconômico também tiveram maior chance de óbito.
Os resultados obtidos pelo trabalho levam os pesquisadores a propor a reclassificação da Covid-19 como uma sindemia, ou seja, o sinergismo de duas condições de saúde (Covid-19 e DCNT), que se potencializam mutuamente e são impulsionadas por desigualdades socioeconômicas estruturais.
“Nossos resultados são relevantes para a formulação de políticas de saúde pública, uma vez que o país ainda está planejando sua estratégia de vacinação e tentando encontrar a melhor maneira de enfrentar os desafios de saúde impostos pela pandemia da Covid-19”, afirma o Prof. Alexandre Archanjo Ferraro, Associado do Departamento de Pediatria da FMUSP, e um dos pesquisadores do estudo.
Vale ressaltar que, como o próprio estudo reforça, crianças e adolescentes são em sua maioria poupados pela Covid-19, apresentando baixo índice de gravidade e mortalidade em comparação à faixa etária adulta.
“Abordar a Covid-19 como parte de uma sindemia convida a uma visão mais ampla que vai além das soluções biomédicas e engloba o ambiente socioeconômico que promove o agrupamento e a interação com as DCNT. Tratamento adequado, medidas preventivas e vacinação não são suficientes: a intervenção governamental é necessária para enfrentar o desafio de mudar as disparidades estruturalmente enraizadas na sociedade brasileira”, finaliza Braian Sousa, pesquisador do estudo.