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Era o ano de 2002 quando, durante uma aula de Patologia do Professor Paulo Saldiva, alunos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) conversavam com o docente sobre a possibilidade de se organizar um projeto destinado aos alunos do Ensino Médio público, com o intuito de ajudá-los a enfrentar as duras provas de vestibular e ingressar no Ensino Superior. Tão logo a discussão foi levantada pelo Prof. Saldiva (preocupado com os índices de aprovação de um colégio local), os estudantes rapidamente se engajaram, esboçando como expandir a democratização do acesso à Universidade.

Presente naquela sala de aula, e cursando seu segundo ano de Medicina na Faculdade, estava Gerson Salvador, atual professor de Propedêutica Clínica na graduação da FMUSP e médico infectologista no Instituto de Medicina Física e de Reabilitação do Hospital das Clínicas. “Nossa turma se organizou para realizar um projeto piloto que aconteceu no segundo semestre daquele ano”, lembra. “E o professor Saldiva conseguiu material didático, apoio da Faculdade para liberação dos anfiteatros e toda estrutura da qual o curso precisava.”

Surgia assim o cursinho pré-vestibular MedEnsina que, aproveitando o sucesso daquela primeira empreitada, transformou-se em um projeto extensivo no ano seguinte, com inscrições abertas para estudantes de escolas públicas, priorizando aqueles que não podiam arcar com aulas particulares – critério mantido até hoje. A demanda por parte dos vestibulandos foi imediata, assim como os resultados. Gerson conta que logo no primeiro ano o MedEnsina conseguiu aprovações em universidades públicas, inclusive na USP, e contou com uma estudante que se tornaria a primeira mulher negra a se formar em jornalismo pelo Mackenzie, após conquistar uma bolsa do PROUNI. “Foi uma experiência muito feliz na minha vida, acho que ajudou a me formar como cidadão, assim como vários colegas que se engajaram”, diz o professor.

Atualmente, o cursinho mantém quatro turmas, totalizando 270 alunos, e conta com o apoio da Diretoria da Faculdade e do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (CAOC). As aulas acontecem diariamente nos anfiteatros da FMUSP, durante o período noturno. Também são oferecidos plantões, simulados, tutorias, material didático gratuito (disponibilizado pelo Sistema de Ensino Poliedro) e apoio psicológico aos alunos através de parceria com o Projeto EntreLaços. Todos os professores são estudantes voluntários da Faculdade.

É o caso de Maya Thiery Kizaki Becca, aluna do sexto ano do curso de Medicina e instrutora de química no projeto. “O MedEnsina foi a extensão, dentre as inúmeras da Faculdade, que fez meus olhos brilharem”, diz. “Poder ajudar pessoas a buscarem o sonho de estar em uma faculdade pública parecia algo incrível e inimaginável para mim.” Segundo a graduanda, a relação estabelecida com os alunos tem sido sua principal motivação desde que começou a dar aulas. “Muitas vezes eles trabalham durante o dia e frequentam o cursinho a noite, o que os deixa muito cansados, mas mesmo assim consigo perceber o quanto eles lutam para estar no MedEnsina.”

O objetivo de todos envolvidos no projeto é claro: conseguir aprovações nas principais universidades do país. Apenas nos últimos três anos, 78 alunos ingressaram diretamente em universidades públicas. Em 2021, foram 10 aprovados em diferentes cursos da Universidade de São Paulo, incluindo Medicina e Terapia Ocupacional, oferecidos pela FMUSP.

Conversando com ex-alunos, no entanto, fica claro que a iniciativa possui um potencial transformador que vai muito além dos vestibulares. É o caso de Saulo da Silva Pereira que, há cerca de 19 anos, saía do ensino médio de uma escola pública na periferia de Embu das Artes “sem fazer ideia do que era vestibular, curso superior ou universidade pública”, até tomar conhecimento de um cursinho popular organizado por alunos da Faculdade de Medicina da USP.

“O MedEnsina ampliou meu horizonte de possibilidades”, diz Saulo. “Foi onde aprendi que superar muitas das deficiências do ensino médio público e reivindicar uma vaga no ensino superior era possível.” Em 2018, ele ingressou no curso de Medicina da FMUSP e viu a possibilidade de retribuir as ferramentas educativas que havia recebido para transformar sua vida por meio da educação.

Sobre a distinta marca de 20 anos do projeto, Saulo, que hoje é professor voluntário, acredita se tratar do resultado de um compromisso em constante renovação. “É a vitória de uma ideia que surgiu em 2002 a partir de um ilustre professor patologista e um grupo de alunas e alunos inspirados e motivados, e daqueles que lutam dia após dia para mudar suas vidas e histórias em um país cada vez mais desafiador.”

Para mais informações sobre o MedEnsina, acesse www.medensina.com

Diretoria de 2022 do MedEnsina
Excursão com os alunos até a Casa Cultura do Parque para aula sobre obras literárias em 2022