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Um estudo desenvolvido com a colaboração de professores, pesquisadores e médicos dos departamentos de Patologia, Pediatria (Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas) e Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), resultou em uma publicação no periódico científico The Lancet Child & Adolescent Health, intitulada “SARS-CoV-2 in cardiac tissue of a child with Covid-19-related multisystem inflammatory syndrome”, em 20 de agosto de 2020. 

No caso estudado, uma paciente adolescente previamente saudável desenvolveu um quadro clínico grave de inflamação sistêmica, com febre persistente e dor abdominal, seguida de desconforto respiratório e disfunção cardíaca, que evoluiu para um choque cardiogênico num período curto de 28 horas. A confirmação da Covid-19 foi feita pelo teste PCR de swab nasal post-mortem. Foi realizada a autópsia minimamente invasiva, com estudo complementar do coração por microscopia eletrônica.

“A análise microscópica dos pulmões mostrou um quadro leve de pneumonia pelo Sars-Cov-2 e a presença de microtrombose pulmonar, encontrada em um grande número de pacientes com quadro grave de Covid-19. Entretanto, o órgão mais comprometido neste caso foi o coração, que mostrava importante inflamação (pancardite), com necrose e perda de fibras cardíacas, o que levou à insuficiência cardíaca e óbito”, relatou a Profa. Marisa Dolhnikoff, do Departamento de Patologia da FMUSP e a principal autora do estudo.

O quadro inflamatório sistêmico grave em crianças e adolescentes com provável relação com a infecção pelo Sars-Covid2/Covid-19 é atualmente denominado Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), em inglês Multisystem Inflammatory Syndrome in Children (MIS-C). O objetivo inicial da pesquisa de determinar se existe de fato uma relação direta entre a infecção pelo Sars-Cov-2 e o quadro de disfunção e falência cardíaca foi comprovado. A Professora Marisa disse que esse é o primeiro estudo a mostrar a presença do vírus em células musculares cardíacas de um paciente com Covid-19.

"Apesar da MIS-C ser bastante rara, com cerca de 1.000 casos registrados globalmente desde abril, nossos achados vêm num momento em que a comunidade científica ao redor do mundo chama a atenção para a Síndrome e para a necessidade de ser rapidamente reconhecida e tratada. Os estudos que conhecemos até o momento mostram que com a internação e o tratamento, a maioria das crianças com MIS-C tem uma evolução favorável e se recupera. Entretanto, nosso trabalho alerta para a possibilidade de sequelas cardíacas nessas crianças, que serão acompanhadas”, afirma a Profa. Marisa Dolhnikoff.

Leia o estudo na íntegra em: https://www.thelancet.com/journals/lanchi/article/PIIS2352-4642(20)30257-1/fulltext

Figura 1: corresponde a um corte do tecido cardíaco visto ao microscópio óptico. Nota-se a presença de inflamação intersticial e áreas de necrose das células musculares cardíacas (asterisco).

Figura 2: é uma imagem obtida no microscópio eletrônico, em grande aumento, mostrando partículas virais (setas) no citoplasma da célula muscular cardíaca, vizinhas ao núcleo celular (nu) e às miofibrilas contráteis (mf).