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O avanço da idade, histórico familiar e práticas alimentares não saudáveis podem ser fatores de risco para o câncer de próstata. O Novembro Azul – uma espécie de versão masculina da campanha mundial Outubro Rosa –  é lembrada pela FMUSP durante este mês inteiro por meio das luzes azuis que iluminam a fachada da faculdade. Além disso, ações pontuais no Quadrilátero da Saúde vêm sendo empreendidas, como a campanha “Velozes e Saudáveis, homem que se cuida vai mais longe", uma brincadeira interativa de conscientização para quem passa em frente ao Icesp, na Av. Dr. Arnaldo.

O câncer de próstata tem cura, especialmente quando há diagnóstico precoce, e pode ser prevenido por meio de hábitos alimentares saudáveis, ressalta o Prof. Giovanni Scala Marchini, do Departamento de Urologia. Na entrevista abaixo, Marchini esclarece alguns pontos importantes sobre a doença:

O câncer de próstata tem cura, especialmente quando há diagnóstico precoce, e pode ser prevenido por meio de hábitos alimentares saudáveis, ressalta o Prof. Giovanni Scala Marchini, doutor em Urologia pelo HCFMUSP. Na entrevista abaixo, Marchini esclarece alguns pontos importantes sobre a doença:


FMUSP: Há uma população ou perfil mais suscetível para o câncer de próstata?

Marchini: Sim. A incidência de câncer de próstata aumenta com a idade, sendo esse o maior fator de impacto na doença. Na população masculina, o diagnóstico do câncer de próstata ocorre em 0,6% na faixa etária entre 35 e 44 anos, 9% entre 45 e 54 anos, 33% entre 55 e 64 anos, e finalmente 37% entre 64 e 75 anos. Além da idade, homens com antecedente familiar de parentes de primeiro grau com câncer de próstata possuem maior risco da doença, assim como homens da raça negra. Por fim, alguns estudos sugerem que a obesidade e alta ingesta de alimentos gordurosos também aumentam a chance de desenvolver a doença.

 FMUSP:  Como é a prevenção da doença?

Marchini: A prevenção do câncer de próstata, na verdade, auxilia no diagnóstico precoce. Trata-se, portanto, de uma prevenção secundária, pois não evita a doença, mas permite diagnóstico da mesma em fase com altas chances de cura.A prevenção é recomendada pelas Sociedades Americana, Européia e Brasileira de Urologia em todos os homens acima dos 50 anos. Já aqueles homens com antecedente familiar de parentes de primeiro grau que desenvolveram câncer de próstata, e em indivíduos da raça negra, esse rastreamento deve começar mais cedo, aos 45 anos de idade.  

Para todos, é recomendado o screening de próstata té pelo menos 75 anos de idade, mas em indivíduos com altíssima expectativa de vida, essa idade final pode ser alongada para mais tarde.

FMUSP:  Quais são os exames preventivos?

Marchini: Os dois principais exames a serem realizados na faixa etária descrita anteriormente são o toque retal e o exame de sangue chamado antígeno prostático específico (PSA). O PSA tem alta sensibilidade, enquanto o toque retal tem alta especificidade. Combinados, a chance de falha na detecção de uma doença tumoral clinicamente significativa é muito baixa. Importante frisar que a imensa maioria dos tumores malignos da próstata são diagnosticados em sua fase assintomática, ou seja, pelos exames descritos, enquanto o paciente não sente nenhum sintoma na parte sexual, urinária ou em termos de dor em seu corpo. Quando o diagnóstico ocorre em indivíduo com sintomas, como dificuldade miccional, jato fraco, sangramento na urina, ardor, etc, duas possibilidades existem: ou estes sintomas são decorrentes de uma doença benigna concomitante na próstata, o que é frequente, ou então os sintomas são causados pela doença maligna já provavelmente em fase avançada. Por esse motivo, reiteramos, não se deve esperar pelo sintoma, o homem deve procurar o urologista antes disso acontecer, na idade indicada acima. 

FMUSP: Há comportamentos de risco ou predisposição?

Marchini: Sim. A obesidade e a ingesta de alimentos gordurosos em excesso têm associação com a doença prostática maligna. A ingesta de alimentos como licopeno, tomate, castanhas, antigamente relacionadas com a doença, não se mostrou impactante nos estudos mais recentes e bem desenhados. 

FMUSP: No caso de diagnóstico positivo, como é o tratamento?

Marchini: O tratamento do câncer de próstata vai desde a vigilância ativa até a  hormonioterapia, passando por procedimentos cirúrgicos. Em linhas gerais, para pacientes com expectativa de vida baixa ou com doença maligna restrita à próstata e com tipo de célula não muito agressivo, cabe a vigilância ativa realizada com exame de sangue e biópsia de próstata anual, a fim de identificar possível mudança no aspecto do tumor. 

Para pacientes com expectativa de vida alta ou com doença maligna restrita à próstata e com tipo de célula mais agressivo, o tratamento mais empregado é a prostatectomia com retirada cirúrgica total da glândula, ou a radioterapia, a depender de parâmetros específicos do paciente e de seus anseios em relação aos riscos e benefícios de cada modalidade.

Para pacientes com doença metastática, já fora da próstata em outros órgãos e tecidos, o tratamento padrão é a hormonioterapia, com ou sem abordagem cirúrgica para abertura do canal da urina, caso o paciente esteja muito sintomático do ponto de vista urinário. Existem novas drogas que vêm sendo empregadas nesse tipo de paciente, aumentando a expectativa de vida. 

FMUSP: Há chances de cura?

Marchini: Sim, o rastreamento existe exatamente para permitir diagnóstico precoce e aumentar as chances de cura.Estas chances chegam a mais de 90% em doenças iniciais restritas à próstata. Já em casos com diagnóstico numa fase mais tardia, as chances de cura caem significativamente.