Desde o início da pandemia do coronavírus, notou-se que pessoas com idade avançada estavam mais suscetíveis às formas graves da Covid-19. No Brasil e em outros países, campanhas de imunização têm seguido critérios etários na hora de priorizar a distribuição de vacinas. Mas um estudo publicado no Journal of the American Geriatrics Society, liderado pelo pesquisador clínico do Laboratório de Investigação Médica em Envelhecimento (LIM66) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), Dr. Márlon Juliano Romero Aliberti, indica que a medição da fragilidade dos pacientes pode ser um indicador mais confiável do risco de morte pela doença.
Fragilidade, nesse caso, refere-se a uma síndrome clínica associada ao envelhecimento normal, caracterizada pela deterioração na capacidade compensatória do organismo, levando à perda de peso involuntária, fraqueza e outras manifestações. É importante, no entanto, diferenciar entre síndrome de fragilidade e envelhecimento: um indivíduo idoso pode ser menos frágil que outro mais jovem, por exemplo. “As pessoas idosas abrangem um grupo de indivíduos com características de saúde muito distintas”, afirma o pesquisador Dr. Aliberti. “Essas diferenças prévias de saúde, melhor do que a idade cronológica, influenciam na maneira como as pessoas respondem à infecção por Covid-19”.
Para realização do estudo, foram analisados 1830 pacientes internados por Covid-19 com 50 anos ou mais no HCFMUSP, e observou-se forte associação entre fragilidade e mortalidade ao longo de seis meses após a infecção. Além disso, o estado prévio dos pacientes, segundo esse critério, determinou diferenças no risco de morte pela doença em pessoas de idade e nível de gravidade da infecção semelhantes.
Sendo assim, a avaliação da fragilidade, em conjunto com sintomas da gravidade da infecção, como falta de ar, queda da pressão arterial, entre outros, pode ajudar os profissionais de saúde a prever melhor os riscos relacionados à Covid-19 e oferecer cuidados de saúde mais alinhados às necessidades dos pacientes. “Não podemos sucumbir ao etarismo e aceitar que escolhas sobre oferecer recursos hospitalares a um determinado paciente sejam feitas com base na sua idade cronológica”, avalia o Dr. Márlon Aliberti.