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Um novo estudo que define os principais fatores preditores de mortalidade para a febre amarela será conhecido pela comunidade acadêmica. O artigo “Predictors of Mortality in Yellow Fever Patients: an Observational Cohort Study” (no prelo) será publicado em breve na revista científica The Lancet Infectious Diseases. Um dos autores do trabalho, professor Esper Kallás, infectogista do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da FMUSP, apresentou os principais resultados durante o seminário “Febre Amarela: Apresentação clínica, fatores prognósticos e desenvolvimento de novas terapias”, realizado no dia 13 de março pelos Laboratórios de Investigação Médica (LIMs) da FMUSP.

Assintomática na maioria dos infectados, a febre amarela é uma viremia grave, ainda sem protocolo de tratamento definido. Na palestra, Kallás abordou os trabalhos de grupos de cientistas da FMUSP, Hospital das Clínicas e Instituto de Infectologia Emílio Ribas que vêm estudando diversos aspectos da infecção desde as epidemias de 2017 no estado de São Paulo.

Entre os avanços, Kallás mostrou que a taxa de mortalidade cresce com o aumento do número de neutrófilos e da carga viral no sangue. Os estudos também mostram que a cada ano no aumento da idade do paciente, há um aumento de 5% na taxa de mortalidade.

“Esses resultados parecem óbvios, mas na literatura nenhum trabalho até hoje havia determinado que a carga viral e o aumento de neutrófilos são preditores de mortalidade. Se a contagem de neutrófilos está abaixo de 4.000 células/MCL e a carga viral abaixo de 100 milhões de cópias de RNA por ml de plasma, a mortalidade é de 11%. Se o paciente chega com a contagem de neutrófilos acima de 4.000 células/MCL e a carga viral acima de 100 milhões de cópias de RNA por ml de plasma, a mortalidade é de 100%”, disse o professor.

Os parâmetros encontrados são cruciais para ajudar determinar o tipo de acompanhamento ao doente e até mesmo os critérios para receber o transplante de fígado, por exemplo. “Se há como predizer as chances de mortalidade, quem sabe se um tratamento específico, um antiviral precoce ou mesmo um transplante mais cedo pudesse ajudar o paciente”, disse Kallás.

O período de incubação do vírus varia de três a seis dias. Após esse período, iniciam os sintomas como febre súbita, calafrios, dor de cabeça intensa, dores nas costas e no corpo, náuseas e vômitos, além de fadiga e fraqueza. “Entre os sintomas, chama a atenção as queixas de dores nas costas. Apesar do nome, na fase aguda o paciente não apresenta icterícia, sintoma que aparece apenas tardiamente”, afirma Kallás.

Considerado um dos mais renomados pesquisadores do HIV no País, Kallás mostrou que apesar de alguns grupos de pesquisa já terem mostrado que o Sofosbuvir pode ter ação contra a infecção pelo vírus da febre amarela em estudos laboratoriais, a droga ainda está sendo avaliada em um estudo clínico.

“Foi montada uma força tarefa para responder se o Sofosbuvir será util. Um estudo multicêntrico sob coordenação da professora Anna Sara Levin, do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitarias da FMUSP, realizado com pacientes admitidos no HC e no Instituto de Infectologia Emílio Ribas responderá, em breve, se o Sofosbovir está funcionando ou não”, afirmou.

Os pesquisadores estão iniciando estudos também com outras drogas, como o Galidesivir e anticorpos monoclonais, segundo Kallás.

Em 2017, a mortalidade para o estado de São Paulo foi de 37% entre os infectados, uma taxa considerada muito alta. Em 2018, os pesquisadores da FMUSP depuraram uma coorte de 76 casos e chegaram a uma mortalidade de 35%. Curiosamente, na epidemia que começou a se alastrar este ano na região de Registro no Vale do Ribeira, entre 48 casos houve 10 mortes, uma mortalidade 21%. “A taxa caiu. A suspeita é que melhoramos o tratamento e que os serviços estão com as antenas mais ligadas e pegando casos menos graves e iniciando o tratamento precocemente. Acredito que essa proporção está mais próxima da mortalidade real da doença do que em relação aos dados naqueles momentos de crise”, disse.