O procedimento de terapias celulares consiste na reposição de células saudáveis no organismo de pacientes para restaurar ou alterar determinados conjuntos celulares. Também é realizada a modulação da função de um conjunto de células doentes pela injeção de novas células ou produtos celulares.
"As terapias celulares têm avançado muito nos últimos anos e vem sido usadas para tratar câncer, doenças autoimunes, cardíacas e infecciosas. Durante a pandemia, elas foram utilizadas para o tratamento de COVID-19 em diversos ensaios clínicos. Nosso trabalho é o primeiro a juntar todos esses dados espalhados pelo mundo e a verificar, por meio de uma meta-análise [método estatístico que permite agregar dados de diversos estudos independentes], o funcionamento dessas terapias no combate à nova doença, assim como para os problemas de saúde desencadeados pela COVID-19", explica Otávio Cabral-Marques, professor da Faculdade de Medicina da USP e coordenador da pesquisa.
O estudo permite ser usadas células-tronco ou suas derivadas, do próprio paciente (autólogas) ou de um doador (alogênicas), que são cultivadas ou modificadas fora do corpo antes de serem administradas, revelando que os tipos celulares mais utilizados nos ensaios clínicos para tratamento da COVID-19 foram as células estromais ou tronco mesenquimais multipotentes (oriundas do tecido conjuntivo), células natural killer (provenientes de linfoblastos) e células mononucleares (derivadas do sangue), respondendo por 72%, 9% e 6% dos estudos, respectivamente.
Segundo o professor Otávio, desde o começo da pandemia, a terapia com células-tronco e os modelos de organoides derivados dessas células receberam ampla atenção como um novo método de tratamento e estudo da COVID-19. " Isso ocorre porque as células-tronco, em especial as mesenquimais, têm apresentado um significativo poder de regulação imune e funções de reparo de dano tecidual. Por exemplo, em relação ao pulmão ensaios clínicos apontam – em menor ou maior grau – que as terapias celulares avançadas podem limitar a resposta inflamatória grave em pacientes infectados pelo SARS-CoV-2, reduzindo a lesão pulmonar", detalhou o pesquisador. O esperado com essas terapias é que ocorra a melhora da função pulmonar, desempenhando um papel positivo contra a fibrose.
"Embora os resultados dos estudos mostrem que as terapias celulares avançadas possam vir a se estabelecer como um tratamento adjuvante importante para pacientes afetados pela COVID-19, em um futuro próximo, a prevenção da doença por meio da vacinação ainda continua sendo a melhor proteção", aponta o professor Otávio.