Notícias

Assim como o HIV, o HTLV é uma infecção sexualmente transmissível (IST) e seu contágio se dá pelo sangue infectado, podendo ser transmitido de mãe para filho. A infecção atinge 10 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, é considerada endêmica, atingindo principalmente os estados do Maranhão, Pará e Bahia. A mielopatia, doença nerológica que afeta o sistema locomotor, a leucemia de células T do adulto e a dermatite seborreica são algumas das principais complicações da infecção. Estudioso do tema há 30 anos, o professor Jorge Casseb, do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da FMUSP, alerta para a necessidade de políticas de saúde mais efetivas para a prevenção e conscientização sobre o vírus.

“Lutamos para que o Ministério da Saúde implemente a obrigatoriedade do teste preventivo no pré-natal, principalmente nas áreas endêmicas. A maior parte do contágio se dá por transmissão vertical, ou seja, de mãe para filho. Por isso, é comum uma alta concentração familiar da infecção nas áreas endêmicas”, afirma. O exame sorológico Elisa, relativamente de baixo custo, tem alta sensibilidade e especificidade para detectar o vírus, segundo Casseb.

Na palestra “HTLV: um vírus negligenciado”, realizada no dia 13 de fevereiro no anfiteatro de Patologia da FMUSP, com apresentação do membro da Comissão Científica dos LIMs, professor Antônio Magaldi, Casseb falou dos mais recentes avanços da ciência sobre o tema. O especialista trouxe parte dos resultados das pesquisas realizadas junto ao Laboratório de Investigação em Dermatologia e Imunodeficiências da FMUSP (LIM 56), os quais deverão ser publicados em breve na revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases.

Ao contrário do HIV, que tem centros de referência e condutas profissionais específicas, o HTLV ainda não possui atendimento e reabilitação estruturados. “Nossa experiência mostra que o paciente com mielopatia, apresentando quadro de dificuldades locomotoras e formigamento nas pernas e dor nas costas, geralmente passa de um especialista a outro até ser diagnosticado, o que leva algo como oito anos”, afirma.

No Japão, duas medidas preventivas simples foram capazes de reduzir drasticamente a transmissão, explica o infectologista. Desde a década de 1980, o país adotou o exame sorológico preventivo obrigatório em grávidas e a triagem para o vírus em todos os bancos de sangue. “A transmissão vertical caiu de aproximadamente 30% para algo como 3%, usando esse modelo preventivo”, afirma.

Segundo Casseb, o Brasil possui aproximadamente 1 milhão de infectados. Assim como o HIV, a infecção pelo HTLV não tem cura. O tratamento da doença é baseado na redução dos sintomas. O grupo de pesquisa do LIM56 realiza pesquisas e dá atendimentos ambulatoriais às quartas-feiras e sextas-feiras, no Hospital Emilio Ribas. Os pesquisadores aplicam tratamentos com corticoides e verificaram, até o momento, que 25% dos pacientes apresentam redução dos sintomas e melhora na qualidade de vida.