O atual Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo teve origem na Cadeira de Clínica Psiquiátrica e Moléstias Nervosas da Faculdade de Medicina de São Paulo, criada em 1918 e cujo primeiro regente foi o psiquiatra Dr. Francisco Franco da Rocha. Na época as aulas do curso eram dadas no Hospital do Juquerí, no Recolhimento de Dementes das Perdizes e no Laboratório de Anatomia Patológica da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Em março de 1925 assumia a chefia da cadeira o Dr. Enjolras Vampré sendo que no mesmo ano as aulas de Neurologia passaram a ser dadas na Primeira Enfermaria de Medicina de Homens da Santa Casa. Em 1926, com a reforma do Regimento Interno da Faculdade de Medicina ocorria a mudança do nome da Cadeira que passou a ser denominada de Clínica Psiquiátrica e Neuriátrica. Os primeiros assistentes do Dr. Enjolras Vampré foram Adherbal Tolosa (1927), Paulino Longo (1928) e Oswaldo Lange (1930). Em 1935 houve o desdobramento da Cadeira e nesse mesmo ano, o Dr. Enjolras Vampré era empossado como Professor Catedrático da Cadeira de Neurologia, após brilhante concurso público. Na época, além dos 3 assistentes já mencionados, eram indicados como assistentes extra-numerários, Carlos Gama (1929) e Henrique Sam Mindlin (1931) e como assistentes voluntários, Fernando de Oliveira Bastos (1932) e Antonio James Brandi (1934) como adidos voluntários os médicos Oswaldo Freitas Julião e Carlos Virgilio Savoy. Em 17 de maio de 1938 falecia o Prof. Dr. Enjolras Vampré após ter sido acometido de acidente vascular cerebral hemorrágico durante um aula. A morte prematura do Prof. Enjolras foi um grande golpe não só para seus discípulos e amigos como para a Neurologia Brasileira. Nesse mesmo ano de 1938, o Prof. Adherbal Tolosa conquistava em concurso a Cátedra da Clínica Neurológica e os Drs. Oswaldo Lange e Carlos Gama, as Docências-Livres. Ainda em 1938 o Prof. Paulino Longo assumia a Cátedra de Neurologia da Escola Paulista de Medicina. Em 1942 o médico Rolando Angelo Tenuto substituía o Prof. Dr. Carlos Gama na Chefia da Seção de Neurocirurgia que demitira-se para assumir, após concurso, a Cátedra de neurologia da Faculdade de Medicina da Bahia. Nesse mesmo ano de 1942 os Drs. Paulo Pinto Pupo e Henrique Sam Mindin conquistavam o título de Docentes-Livres.
Em 1943 saia o primeiro número da revista "Arquivos de Neuropsiquiatria" sob a responsabilidade das cátedras de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Escola Paulista de Medicina e fundada pelo Dr. Oswaldo Lange, então Primeiro Assistente da Clínica Neurológica e que foi seu editor ate seu falecimento em 1986. Esta revista, trimestral, carac-teriza-se, até hoje, pela sua regularidade de publicação e elevado conteúdo científico e atualmente é o Jornal Oficial da Academia Brasileira de Neurologia.
Em princípios de 1945, a Clínica Neurológica iniciava uma fase decisiva da sua existência quando transferiu-se para o Hospital das Clínicas sob a chefia do Prof. Adherbal Tolosa e seus assistentes efetivos Oswaldo Lange e Oswaldo Freitas Julião. Até então, a Clínica Neurológica contava com os assistentes voluntários Venturini Venturin (1938), João Carvalhal Ribas (1938), José Mario Taques Bittencourt (1938), Rolando Angelo Tenuto (1939), José Lamartini de Assis (1939), Maria Elisa Bierrembach Khoury (1939), J.A. Caetano da Silva Jr. (1939), Antonio Branco Lefèvre (1939), Roberto Melaragno Filho (1942), Arlindo Conde (1943), Sylvio de Vergueiro Forjaz (1944), Horacio Martins Canelas (1944). As instalações iniciais da Clínica Neurológica estavam distribuídas em vários andares. Assim, as enfermarias e a biblioteca ficavam no segundo andar, o ambulatório, anfiteatro de aulas, salas de reuniões dos assistentes e eletroencefalografia no 6º andar. A Seção de Neurocirurgia estava incorporada ao Centro Cirúrgico no 8º andar, a Liquorologia no 7º e a Neurorradiologia no 8º andar. Em 1952, com a transferência da Clínica Ortopédica e Traumatologia para prédio próprio, a Clínica Neurológica instalava-se definitivamente no bloco oeste e braço central contíguo do Instituto Central. Com a reunião de quase todas as Seções da Clínica Neurológica houve uma melhor coordenação das atividades dos assistentes. Nessa época a neurocirurgia era desmem-brada do Centro Cirúrgico com a instalação de sua sala própria de cirurgia além de sala de pós-operatório na ala norte da enfermaria e a Seção de Pronto Socorro de Neurocirurgia ficava localizada no 4º andar.
Em 1945-46, ingressavam na Clínica Neurológica como adidos voluntários os médicos José Zaclis, Homero Pinto Vallada e Wilson Brotto. Em 1945 os Drs. Oswaldo Freitas Julião e Carlos Virgilio Savoy conquistavam a Docência-Livre sendo que este último, em 1946, pedia sua exoneração do cargo de assistente efetivo para ocupar a Chefia do Serviço de Neurologia da Prefeitura do Município de São Paulo, sendo substituído pelo Dr. Horácio Martins Canelas. Em 1947 o médico José Zaclis era contratado como neurorradiologista e Arlindo Conde criava e chefiava o Setor de Eletroencefalografia. Em 1948 eram admitidos como adidos voluntários os médicos Roberto Paulo de Araujo e Carlos de Luccia. Em 1950, o Dr. Antonio Branco Lefèvre conquistava o título de Docente-Livre e no ano seguinte assumia a chefia da Seção de Neuropediatria por ele criada. Em 1951, o Dr. José Lamartine de Assis também conquistava o título de Docente-Livre e ingressavam como assistentes voluntários os médicos Maria Irmina Valente, Abrão Anghinah, José Longman, Adail de Freitas Julião e José Antonio Levy que criaria e chefiaria a Seção de Exames Cistométricos.
Em 1952, por decisão do Conselho de Administração do Hospital das Clínicas era instituído o Serviço de Pronto Socorro de Neurocirurgia, agora subordinado à Clínica Neurológica e para o qual eram contratados como plantonistas os médicos Sylvio de Vergueiro Forjaz, Leonardo Messina, Norberto Augusto Longo, Hamleto Santocchi, Gabriel Russo, Massagochi Gotto, Ernani Lotugo, João Teixeira Pinto e a seguir, Carlos Zamot, Darcy de Freitas Vellutini e Oswaldo Ricciardi Cruz. Em 1953, o médico Antonio Spina França Netto era admitido na Seção de Liquorologia do Laboratório Central do Hospital das Clínicas. Em 1954, o Dr. Roberto Melaragno Filho conquistava o título de Docente-Livre o que ocorreria também com os Drs. Horacio Martins Canelas, Rolando Angelo Tenuto e José Zaclis em 1958. Nessa época cumpre ressaltar o papel desem-penhado pelo Prof. Dr. Oswaldo Lange, já como Professor Associado por concurso, verdadeiro esteio da Clínica Neurológica, disciplinador, exigente, justo e que exercia indiscutível influência em todas as teses de doutoramento e docência-livre, aposentando-se em 1965. Em 1962 a Cátedra da Clínica Neurológica transformava-se em Departamento de Neurologia. Entretanto, com a implantação da Reforma Universitária em 1969, a Clínica Neurológica agregava-se à Clínica Psiquiátrica para constituir um Departamento único até 1986 quando, finalmente, a Clínica Neurológica voltava a tornar-se um Departamento autônomo assim permanecendo até os dias de hoje.
Em 1963 os Drs. Antonio Spina França Netto, Oswaldo Ricciardi Cruz e José Antonio Levy conquistavam o título de Docentes-Livres. Em 1965, o Prof. Dr. Roberto Melaragno Filho exonerava-se para assumir a Chefia do Serviço de Neurologia do Hospital dos Servidores do Estado.
Em 1968, o Dr. Gilberto Guimarães Machado de Almeida, conquistava o título de docente-livre.
Em 1969 o Prof. Dr. Adherbal Tolosa aponsentava-se. Em 1971 o Prof. Dr. Horacio Martins Canelas conquistava o título de Professor Titular e o Dr. Aron J. Diament tornava-se Docente-Livre.
Em 1973, a Clínica Neurológica sofria rude golpe com a morte de 3 dos seus mais destacados elementos, os Professores Drs. Adherbal Tolosa, Oswaldo Freitas Julião e Rolando Angelo Tenuto. Com o falecimento prematuro deste último, o Setor de Neurocirurgia, após a regência do Prof. Dr. José Zaclis, passou a ser chefiada pelo Prof. Dr. Gilberto Guimarães Machado de Almeida depois de concurso com banca examinadora de nível nacional.
Em 1974, os Drs. Raul Marino Junior, Abrão Anghinah e Luis Marques de Assis tornavam-se Docentes-Livres, o mesmo acontecendo com o Dr. Milberto Scaff em 1975. Em 1977, o Prof. Dr. Antonio Branco Lefèvre conquistava o título de Professor Titular da Disciplina de Neurologia Infantil vindo a falecer, prematuramente, em 1981, em pleno apogeu de sua contribuição à Neurologia e especialmente à neuro-pediatria, deixando inúmeros discípulos e obra imorredoura.
Em 1978, falecia o Prof. Dr. Abrão Anghinah, criador e responsável pelo Setor de Cinesioterapia da Divisão de Clínica Neurológica. Ainda em 1978, o Dr. Walter Carlos Pereira conseguia o título de Docente-Livre, o mesmo ocorrendo com o Dr. José Pínadro Pereira Plese em 1981, com o Dr. Saul Cypel em 1983, com o Dr. Luiz Alberto Bacheschi em 1984, com os Drs. José Luzio e José Antonio Livramento em 1986, com o Dr. Flavio Aurelio Parente Settani em 1987 e com o Dr. Ricardo Nitrini em 1992.
Nos idos de 1980, eram feitas várias tentativas pela Administração do Hospital das Clínicas, no sentido da transferência das instalações da Clínica Neurológica para o prédio do Instituto de Psiquiatria. Essa intenção não se concretizava porque estaria contra os interesses das Clínicas Neurológica e Psiquiátrica.
Em 1980, o Centro de Investigações em Neurologia, criado pelas Disciplinas de Neurologia em 1973, era integrado ao Departamento de Neurologia e passaria a funcionar no Edifício da Faculdade de Medicina, valendo-se da estrutura do Laboratório de Investigações Médicas nº XV (LIM-XV) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo sob a supervisão do Prof. Dr. Antonio Spina França Netto.
Em 1982, o Prof. Dr. Antonio Spina França Netto conquistava o título de Professor Titular do Departamento de Neurologia e em 1983, falecia o Prof. Dr. José Zaclis, organizador e chefe do Serviço de Neurorradiologia do Hospital das Clínicas. Em 1984, aposentava-se o Prof. Dr. José Lamartine de Assis, figura ímpar, exemplo de colega, profissional e mestre e que até hoje continua colaborando, voluntariamente, com o Departamento de Neurologia. Em 1989 aposentava-se o Prof. Dr. Horácio Martins Canelas que soube harmonizar os interesses das Clínicas Neurológica e Psiquiátrica quando estas constituíam um Departamento único, influindo também decisivamente na sua divisão bem como impedindo que nossas instalações fossem transferidas para o Instituto de Psiquiatria. Também com sua aposentadoria encerrava-se uma fase de grande progresso do Departamento de Neurologia durante a qual foram realizados os concursos dos Professores Titulares Antonio Branco Lefèvre e Antonio Spina França Netto nas Disciplinas de Neurologia Infantil e Neurologia Fundamental, respectiva-mente, bem como criando condições para os concursos também para Professores Titulares de Neurologia Clínica e Neurocirurgia que seriam conquistados pelos Profs. Drs. Milberto Scaff e Raul Marino Junior. Também foi o grande incentivador de vários concursos de Docência-Livre, douto-rado e mestrado.
Em 1990, o Prof. Dr. Milberto Scaff tornava-se Professor Titular do Departamento de Neurologia e pela primeira vez, ocorria o concurso para Professor Titular de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, vencido pelo Prof. Dr. Raul Marino Junior. Nesse mesmo ano, exonerava-se o Prof. Dr. Gilberto Machado de Almeida, deixando como legado um dos melhores Serviços de Neurocirurgia do País com uma pleiade de neurocirurgiões habilidosos e respeitados, assim como uma residência em neurocirurgia modelar. Ainda em 1990, exonerava-se precoce-mente o Prof. Dr. Antonio Spina França Netto, para surpresa e pesar dos seus assistentes e discípulos, interrompendo profícua carreira universitária.
Esta breve e despretensiosa história do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo certamente contém imperfeições e omissões involuntárias de fatos e nomes. Prestamos homenagem àqueles nominados e aos não citados que deram e continuam dando o melhor de si para a preservação, aperfeiçoamento e desenvolvimento deste centro irradiador de conhecimento neurológico.
Além dos Professores Docentes-Livres já mencionados, conquistaram o título de doutor os médicos: Darcy de Freitas Vellutini (1969), José Alberto Gonçalves da Silva (1972), Agustin D’Onghia Colaprico (1972), Julinho Aisen (1972), Arnaldo Gama da Rocha (1973), Edgard Rafaelli (1973), Juvenal de Souza Rogério (1973), Laplace Pinto Vallada (1973), Rosi Mary Grossmann (1973), Satoe Gazal (1973), Roberto Godoy (1984), João Eliezer Ferri de Barros (1987), José Paulo Smith Nóbrega (1987), Luis dos Ramos Machado (1987), Maria Joaquina Marque-Dias (1987), Antonio Cezar Ribeiro Galvão (1988), José Luiz Dias Gherpelli (1988), Livia Cunha Elkis (1988), Norberto Rodrigues (1988), Rubens José Gagliardi (1988), Umbertina Conti Reed (1988), Antonio João Tedesco Marchese (1989), Dagoberto Callegaro (1989), Elza Marcia Targas Yacubian (1989), Lucia Iracema Zanotto de Mendonça (1989), Nadi Nader Mangini (1989), Rubens Nelson Amaral de A. Reimão (1989), Vicente José A. Ferreira (1989), Almir Ferreira de Andrade (1990), Egberto Reis Barbosa (1990), Fernando Kok (1990), José Carlos Esteves Veiga (1990), Luiz Alcides Manreza (1990), Manoel Jacobsen Teixeira (1990), Maria Luiza Giraldes de Manreza (1990), Antonio Alberto Zambon (1991), Clemente Augusto B. Pereira (1991), Guilherme Carvalhal Ribas (1991), Hamilton Matushita (1991), Eduardo de Arnaldo Silva Velluttini (1994), Mary Souza de Carvalho (1994), Antonio Morato Leite Neto (1994), Mario Augusto Taricco (1994).
Referências: