As doenças vasculares cerebrais representam importante capítulo na neurologia, pois constituem a maior causa de morte no Brasil e uma das três principais causas de mortalidade na maioria dos países industrializados, caminhando lado a lado com as afecções isquêmicas do coração e o câncer. No adulto, as doenças cerebrovasculares causam muito mais incapacidade física do que qualquer outra patologia. Sua taxa de mortalidade alcança 20% em um mês e cerca de um terço dos sobreviventes permanece dependente após 6 meses. Dessa forma, é enorme o seu impacto sobre a sociedade como um todo, tanto por perda de população economicamente ativa, quanto por custo do tratamento pela sociedade.
Até há relativamente pouco tempo, em meados da década de 70, a abordagem clínica de um paciente com acidente vascular cerebral (AVC) era freqüentemente contaminada por um enfoque niilista, pessimista e negativista. Entre os próprios neurologistas as doenças vasculares cerebrais despertavam pouco interesse, sendo tais pacientes comumente atendidos no setor de emergência por neurocirurgiões e acompanhados posteriormente por clínicos gerais e cardiologistas. Em contrapartida, tal panorama se modificou drasticamente nas últimas 2 décadas, quando o estudo das doenças cerebrovasculares exibiu grande progresso, ancorado pelo surgimento da moderna neuro-imagem [tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM)] e, principalmente às custas de intensas pesquisas experimentais e clínico-farmacológicas que culminaram no estabelecimento da terapêutica trombolítica intravenosa, em 1995, como a primeira e até o presente, a única intervenção comprovadamente eficaz no tratamento do AVC isquêmico (AVCI) agudo.
Espelhando também melhora das condições gerais de saúde na população brasileira nas últimas 3 décadas, estudo recente revelou queda dramática na mortalidade por AVC no Brasil entre 1980 e 2002. Nesse intervalo, a taxa de mortalidade exibiu queda de 68,2 para 40,9 pacientes por 100.000 habitantes/ano.
As doenças vasculares cerebrais também constituem a segunda causa mais freqüente de demência, apenas superadas pela doença de Alzheimer, além de serem desencadeante comum de epilepsia, depressão e quedas com fraturas.